Em defesa do amador
O cinema amador é o cinema daquele que ama. E quem ama se sujeita a sentir a dor que existe em todo amor. O amador é aquele que pega com a mão, que transforma a ausência em matéria. A fragilidade é seu fundamento. Para o amador, olhar é um convite para tocar, moldar, brincar. É quem faz com o que tem e tem o que faz. A arte não está no resultado mas no processo, nos seus erros e enganos. Rohmer, Cézanne, Salinger, Dylan, todos esses foram grandes amadores porque acima de tudo não deixaram nada entrar no caminho, a não ser o essencial. Ser amador é ser antropofágico: engolir tudo que nos fortalece. É voltar para a infância da arte, onde não há diferença entre a vida e os rabiscos que se faz no caderno. O amador é o único modo de se fazer política em cinema porque sua existência o é: política dos autores, dos atores, das minhas, das suas, das nossas dores. Não se faz cinema sem ser em primeiro lugar amador. Pois fazer cinema é implicar-se como se não existisse mais nada. Para o amador,