Em defesa do amador

O cinema amador é o cinema daquele que ama. E quem ama se sujeita a sentir a dor que existe em todo amor.

O amador é aquele que pega com a mão, que transforma a ausência em matéria. A fragilidade é seu fundamento. 


Para o amador, olhar é um convite para tocar, moldar, brincar.


É quem faz com o que tem e tem o que faz. A arte não está no resultado mas no processo, nos seus erros e enganos.


Rohmer, Cézanne, Salinger, Dylan, todos esses foram grandes amadores porque acima de tudo não deixaram nada entrar no caminho, a não ser o essencial.


Ser amador é ser antropofágico: engolir tudo que nos fortalece.


É voltar para a infância da arte, onde não há diferença entre a vida e os rabiscos que se faz no caderno.


O amador é o único modo de se fazer política em cinema porque sua existência o é: política dos autores, dos atores, das minhas, das suas, das nossas dores.


Não se faz cinema sem ser em primeiro lugar amador. Pois fazer cinema é implicar-se como se não existisse mais nada.


Para o amador, não existe o medo de errar, apenas de não tentar. Porque falhar é também uma forma de acerto, é pensando bem desejado e planejado.


O amador é quem faz cinema apesar de tudo, pois sabe que ele é a arte de amar e a verdade aparece quando se paga o preço do amor.


Sejamos amadores!






Três obras amadoras que me marcaram esse ano:  

“O Raio Verde” (1986, Éric Rohmer) - foto da sua biografia escrita pelo Antoine de Baecque e Noel Herpe. Vale também qualquer outra coisa do Rohmer.

“La Parle” (2022, Fanny Boldini, Gabriela Boeri, Kevin Vanstaen e Simon Boulier)

“Dancin’ Days” (Cauê Dias Baptista)

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