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A mostrar mensagens de julho, 2022

Uma Noite na Cinemateca

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 Por Luca Scupino      Sábado passado, depois de muita espera (e enrolação), eu fui com alguns amigos à minha primeira sessão na Cinemateca Brasileira. Muita espera porque é mesmo um momento que não achei que fosse chegar, pelo menos tão breve. E para quem acompanhou toda a odisseia pela qual essa instituição tão importante, criada por Paulo Emílio Sales Gomes, passou durante os últimos governos (e torçamos para que acabem por aqui), é algo como um milagre vê-la aberta novamente para o público, com seus trabalhadores recontratados e cumprindo sua função social de preservação e exibição dos filmes. Para quem, como eu, que apenas recentemente passou a frequentar certos espaços culturais na cidade, é até estranho chegar na frente dos galpões na Vila Mariana e ver que aquilo existe para além de uma imagem no Facebook com um abaixo assinado atrelado, ou ilustrando um portal de notícias. A sensação de estar fisicamente lá, no entanto, mesmo não sendo frequentador de longa data, é de um pro

"The Last Days of Disco" (1998) e a consciência do tempo histórico

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Por Luca Scupino      Foram 13 anos de espera para que Whit Stillman realizasse seu próximo filme como diretor, após o fracasso de bilheteria de Os últimos embalos da disco (1998) . Com um orçamento de US$ 8 milhões e retorno doméstico de apenas 3 milhões, é mais um dado que constitui parte da mística deste filme: uma obra que parece estranhamente deslocada de seu tempo histórico de lançamento - obcecada por pequenos hábitos de um grupo social seleto em Nova York no início dos anos 1980, permeada por referências culturais que não pareciam fazer parte do universo indie cinematográfico dos anos 90 - mas que, ao mesmo tempo, se demonstra profundamente consciente do lugar que ocupa na produção contemporânea e adota um estilo idiossincrático que certamente não agradaria a boa parte de sua audiência, ainda menos com um título que facilmente remete às imagens nostálgicas de um John Travolta na pista de dança.      Se o contexto de recepção não o soube apreciar, não precisou-se esperar mui

Lumière, Benning, Tscherkassky: trens, trens, trens

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por Luca Scupino 1.                   No princípio era a luz. Louis Lumière = duas vezes luz, como diria o cineasta Jairo Ferreira. Se essa luz era tanto a matéria-prima quanto o resultado material das imagens que ali tomavam proporção, o que era por ela iluminado e enquadrado também pertencia a um universo específico de signos: festas, tradições, acontecimentos públicos, esquetes cômicas, máquinas, imagens do novo mundo em movimento. Mas de todas estas, uma imagem permanece a mais marcante, a mais afetiva: o espectro do trem . E nada faria mais sentido que começar esse espaço com uma anunciação, uma chegada.             A relação entre trens e cinema não é nova (talvez, aliás, seja a mais antiga de todas), tampouco é a teoria de que o cinema corresponde no campo estético à mesma necessidade de compressão espaço-temporal que o surgimento do trem promove no transporte, fundando uma nova experiência urbana, que tanto foi base para a poesia e as artes plásticas no século XIX. Não intere